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As Finanças Pessoais pós-pandemia

Myrian Lund – Jun 2020

Estamos saindo progressivamente do isolamento social, e bastante curiosos com relação ao “novo normal”.

Do ponto de vista das Finanças Pessoais, vamos falar de duas variáveis importantes: as heurísticas e vieses comportamentais, que nos levam a tomar decisões “previsivelmente irracionais” (Ariely, 2008), e a taxa Selic Meta em 2,25% ao ano, a mais baixa da história do Brasil.

“As pessoas são ocupadas e não dá para gastar todo o tempo pensando e analisando tudo. Usam regras, rápidas e úteis, no dia a dia”. Kahneman e Tversky (1974) descrevem três regras gerais (heurísticas) usadas naturalmente para a tomada de decisões: a ancoragem que se baseia em valores pessoais, a disponibilidade na memória e a representatividade em erros de análise.

Heurística da Disponibilidade é julgar a frequência de um evento segundo a facilidade com que as ocorrências vêm à mente. Diariamente, somos atualizados pela mídia e redes sociais, principalmente, o que pode nos leva a tomar decisões financeiras baseadas nas informações disponíveis, podendo, ao extremo, no viés da adesão, conhecido como efeito manada, fazer o que a maioria está seguindo sem questionar a utilidade para você e sua família. a heurística da disponibilidade ajuda a explicar muitos comportamentos associados a riscos. Por exemplo, experiências recentes exercem forte influência na contratação de seguros contra desastres naturais. Após um terremoto, há um grande aumento na contratação de apólice de seguro, mas conforme as lembranças vão ficando para trás, esse número começa a cair seguidamente.

Barber e Odean (2006) realizaram um estudo que demonstrou que os investidores possuem uma propensão maior a investir em “grabbing stocks” e definiram “grabbing stock” como ações que estão em maior evidência na mídia ou ações que possuem um número elevado de transações.

Heurística da Representatividade é empregada quando se pede às pessoas para julgar a probabilidade de que um objeto ou evento A pertença à classe ou processo B. Exemplo: Acreditamos que um afro-americano de mais de dois metros de altura tem mais probabilidade de ser um jogador de basquete profissional do que um judeu branco de 1,60m, porque há muitos jogadores de basquete negros e altos e poucos baixos e judeus. Completamos as lacunas de informação com exemplos previamente conhecidos ou estereótipos. O processo decisório do investidor é simplificado, pois realiza projeções da performance futura de um ativo tendo por base a trajetória passada como um elemento representativo para tal análise.

Heurística da Ancoragem – empregado na previsão numérica quando um valor relevante se encontra disponível. Você começa com uma âncora, o valor conhecido, e, a partir da,í faz ajustes na direção que considera acertada. Um bom exemplo é manter investimento de médio e longo prazo na poupança, que está rendendo abaixo da inflação. A ancoragem leva a alguns vieses comportamentais, como: status quo (não querer mudar), da procrastinação (demorar para tomar uma decisão) e aversão a riscos

A compreensão dessas heurísticas e dos vieses comportamentais associados podem melhorar nossas decisões de consumo, de poupança e de investimento.

Atualmente, nas aplicações financeiras, o ganho real (ganho acima da inflação) está em níveis próximos a zero, podendo caminhar para negativo. É premente mudarmos nossa forma de pensar com relação aos investimentos para o médio prazo (1 ano a 5 anos) e longo prazo (acima de 5 anos). Por ser um mundo financeiro novo não temos onde nos ancorar, onde buscar referências na história brasileira. As informações disponíveis de cenário similar têm origem apenas nos países desenvolvidos, que já vivem essa realidade há muitos anos.
“Bora” conhecer os princípios de investimento: risco, retorno e liquidez, em busca de decisões financeiras mais racionais baseadas em evidências científicas!

Fonte:
ARIELY, D. (2008) Previsivelmente Irracional: como as decisões do dia a dia influenciam as nossas decisões. Rio de Janeiro: Elsevier.

BARBER, Brad M. and ODEAN, Terrance. All that Glitters: The Effect of Attention and News on the Buying Behavior of Individual and Institutional Investors (November 2006). EFA 2005 Moscow Meetings Paper. Available at http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.460660

TVERSKY, Amos, KAHNEMAN, Daniel. Judgment under Uncertainty: Heurists and Biases. Science 27. Vol. 185, Issue 4157, pp. 1124-1131, Sep 1974.